sexta-feira, 28 de março de 2014

MENSAGENS

Tristeza e Compaixão

Tristeza e Compaixão
Queridos leitores, que vocês estejam bem. Voltei de Portugal recentemente, onde fui fazer estudos em Filosofia Clínica. E retornei com alguns CDs de Fado, a música que tem a cara da nossa gente portuguesa. Escolhi alguns artistas, com destaque a Amália Rodrigues e Mariza, esta conhecida como sucessora de Amália.
O Fado é uma canção de lamento. Suas letras são geralmente carregadas de profundas melancolias e alguns pensam que é só tristeza. Talvez o tango argentino nas Américas seja, em tese, o que o Fado tem para a Europa.

Geralmente quando passo longos períodos ouvindo Fado, fico introspectivo, pensante, quieto e gosto de me sentir assim, pensativo, reflexivo. É desse jeito que ouço com mais nitidez meu coração e minhas emoções.
E foi justamente isso que aconteceu no último sábado. Depois de ouvir por diversas vezes o Fado de “Valsa dos Amantes”, de Jorge Fernando, senti-me meio down. Reconheci e acolhi esse sentimento em mim.
Só uma pequena amostra da música: “Não penses que te vejo como outrora, a vida esgota a vida hora a hora. O tempo gasta o tempo e marca a gente, o espelho mostra como eu estou diferente, não estou novo, não sou novo. Mas não peças que a vida te apague do fundo de mim”.

Depois de ouvir, de degustar essas palavras e deixa-las reverberar dentro de mim, saí a caminhar pela praça próxima a minha casa. Ia cabisbaixo, pensativo, quando logo me veio a mente um texto de Fernando Pessoa: “Ah! A imensa felicidade de não precisar de estar alegre...”
Era assim que eu me sentia naquele dia: não estava alegre, apenas isso, e queria continuar assim por algum tempo, ali, agora, sentado no banco da praça. Queria curtir aquele sentimento introspectivo. Não consegui, fui abordado por dois conhecidos que me tiraram a liberdade de estar comigo mesmo.
Você já reparou que existem pessoas que simplesmente não admitem que você fique triste e já vão contando piadas, te cutucando? Da próxima vez, talvez, assuma este sentimento no cemitério, pois me parece que é o único lugar onde podemos estar tristes e até chorar, sem que ninguém nos importune.
Lembro-me no Caminho de Santiago quando passei um dia assim, reflexivo, sem quase falar nada e nem querendo ouvir nada. Como foi terapêutico. Por isso, quando percebo alguém assim, o respeito e até o admiro.
Lembrando que isso é assim para mim hoje.



Se a mágoa lhe bate à porta, entorpecendo-lhe a cabeça ou paralisando-lhe os braços, fuja dessa intoxicação mental enquanto pode.

Se você está doente, atenda ao corpo enfermiço, na convicção de que não é com lágrimas que você recupera um relógio defeituoso.

Se você errou, busque reconsiderar a própria falta, reajustando o caminho sem vaidade, reconhecendo que você não é o primeiro e nem será o último a encontrar-se numa conta desajustada que roga corrigenda.

Se você caiu em tentação, levante-se e prossiga adiante, na tarefa que a vida lhe assinalou, na certeza de que ninguém resgata uma dívida ao preço de queixa inútil.

Se amigos desertaram, pense na árvore que, por vezes, necessita de poda, a fim de renovar a própria existência.

Se você possui na família um ninho de aflições, é forçoso anotar que o benefício da educação pede a base da escola.

Se sofrer prejuízos materiais, recorde que, em muitas ocasiões, a perda do anel é a defesa do braço.

Se alguém lhe ofendeu a dignidade, olvide ressentimentos, ponderando que a criatura de bom senso, jamais enfeitaria a própria apresentação com uma lata de lixo.

Se a impaciência lhe marca os gestos habituais, acalme-se, observando que os pequeninos desequilíbrios integram, por fim, as grandes perturbações.

Seja qual for o seu problema, lembre-se de que toda mágoa é sombra destrutiva e de que sombra alguma consegue permanecer no coração que se acolhe ao trabalho, procurando servir.

◆◆◆
André Luiz
Chico Xavier





Nenhum comentário:

Postar um comentário