A Alma, ao longo dos tempos, tem sido objecto de várias tentativas de definição; por exemplo, Platão definia-a como «substância espiritual completa, não somente imortal mas eterna e unida ao corpo»; Santo Agostinho postulou a definição: «substância incorpórea cuja actividade fundamental é a animação, pela qual vivifica e move o corpo»; Descartes por sua vez, defendia que a alma «é uma substância completa, absolutamente simples, por conseguinte espiritual e imortal».

Os xamãs acreditam que todos nascemos com uma quantidade de energia suficiente para nos mantermos saudáveis ao longo da vida - trata-se de um poder que também designam por «força da vida», aquilo que conhecemos como energia vital, a essência da vida, a alma.

Porém, este é um poder que está sujeito à imprevisibilidade do mundo, possuindo por isso, um "mecanismo" de sobrevivência. Assim, as sociedades ancestrais, ensinam-nos que quando se sofre um trauma, pode acontecer que fragmentos da alma saiam do corpo, para que o indivíduo possa sobreviver à experiência, possa continuar a viver.

Vejamos alguns dos traumasque podem provocar a fragmentação ou perda de partes da alma...

TRAUMAS

Na acepção da psicologia moderna, o termo «trauma» serve para designar «um acontecimento emocionalmente doloroso que torna o indivíduo particularmente sensível, quando confrontado com situações semelhantes». Na acepção da medicina, também designa «qualquer lesão ou perturbação produzida no organismo, por um agente exterior, que é impelido por uma determinada força».

Nas sociedades ancestrais acredita-se que para sobreviver e minimizar o impacto físico ou emocional de uma dor, há partes da alma que saem.

Esta fragmentação da alma, é vista por um lado, como algo de muito benéfico porque nos possibilita minimizar a dor; por outro lado, se as partes da alma não são resgatadas a seu devido tempo, os espaços desocupados podem ser ocupados por outras energias (a que os xamãs designam por «intrusões espirituais») ou, ainda mais grave, esses espaços podem passar a funcionar como um local por onde o poder, a energia vital, se escoa, levando a estados de saúde bastante débeis.

Nas comunidades xamânicas estes traumas podem ser causados por exemplo, na sequência de confrontos entre tribos, de incêndios, de sustos ou de desastres naturais (como terramotos, tornados ou tsunamis). Na nossa sociedade, a fragmentação da alma, pode ser causada por um leque de situações bem mais variado.

Qualquer tipo de abuso físico (como o sexual), e, ou, emocional (como as ameaças), pode gerar perda de energia vital, mas não só. Ter estado envolvido em guerras, perante situações de terrorismo, assaltos, cirurgias, divórcios litigiosos ou mortes e doenças graves de pessoas queridas, são alguns dos muitos exemplos.

Mas nem só os acontecimentos mais marcantes podem causar perda de poder. Uma queda em criança ou uma actuação, em adulto, contra os seus próprios valores éticos e morais, podem abrir espaço ao escoamento da energia vital. Os xamãs acreditam mesmo, que os relógios despertadores (aqueles bem ruidosos e irritantes), podem fazer com que partes da alma saiam.

Um exemplo onde se entende com facilidade este fenómeno de sobrevivência à dor, é no caso dos acidentes de viação: na eminência de um impacto forte entre dois carros, o último sítio onde a alma vai querer estar no momento da colisão, é no corpo, então sai. E pode não conseguir voltar completamente, gerando um problema no indivíduo, que na psicologia é conhecida como    dissocisção...                      

PSICOLOGIA

O termo «dissociação» é usado na psicologia para dar conta de uma «fragmentação do psiquismo que leva à discordância entre o pensamento do indivíduo e a sua expressão», algo que segundo o xamanismo pode ter sido causado por perda de partes da alma.

Todavia, na psicologia não se sabe - quando ocorrem dissociações - para onde vão as partes fragmentadas do psiquismo. No xamanismo, sabe-se há milhares de anos, que essas partes da alma saem do corpo e vão para espaços do Universo a que os xamãs chamam de «realidade invulgar», onde esperam até que alguém intervenha nesses reinos espirituais e facilite o seu regresso.

Todavia, as partes da alma podem regressar por si só, quando sentem que o trauma está curado e percebem que já é seguro voltar, ou, podem ficar como que perdidas ou ligadas a outras pessoas, sem se conseguirem desligar das mesmas, não conseguindo regressar ao corpo.

O problema, do ponto de vista xamânico, dá-se precisamente quando as partes da alma que saem, não voltam por si só. Algo que pode gerar problemas não só de dissociação, mas    muitos outros...

SINTOMAS

Como já apontámos, um dos sintomas de fragmentação da alma é a dissociação, onde o indivíduo não se sente preenchido, sente-se dissociado do seu corpo, tendo normalmente uma vida completamente ocupada, buscando inconscientemente algo que não consegue encontrar.

Múltipla personalidade, falta de memória (em especial de partes da infância), depressão crónica, tendências suicidas, sindroma pós-traumático, problemas de deficiência no sistema imunitário ou sofrimentos emocionais que não cessam, são outros exemplos que evidenciam perda de partes da alma. Os vícios (sexo compulsivo, álcool, tabaco ou drogas, comida, compras ou trabalho em excesso), são também uma forma de tentar preencher (inconscientemente), os espaços vazios deixados pela fragmentação da alma.

Mas um dos sintomas mais evidentes de perda de alma, é o coma. Num estado de coma, a alma está quase completamente fora do corpo - trata-se de um estado onde é necessária uma prudência extrema, podendo o xamã ajudar a alma a decidir qual é o caminho que de facto é o melhor: voltar a reintegrar-se na realidade vulgar (tendo em conta as implicações desse regresso), ou mover-se definitivamente para os reinos espirituais (o que irá implicar a morte do corpo físico).

As evidências de perda de partes da alma são muito variadas; por exemplo, alguém que, após ter sido sujeito a um determinado trauma, diz com pesar: «nunca mais fui o mesmo», «nunca mais consegui chorar», «não me sinto no meu corpo», «não tenho emoções», «sinto-me vazio», ou, alguém que diz após uma separação «fiquei com o coração partido», «parte do meu coração ficou com ele/ela» ou «não consigo esquecê-lo/a», são outros sintomas que evidenciam um escoamento de energia vital.

Mas o facto mais curioso que se tem observado, é que o ser humano tem tentado preencher os seus espaços vazios, com bens materiais, algo que como sabemos, não "encaixa" na nossa estrutura essencial.

Como facilmente se constata, estamos perante um problema planetário - um problema para o qual há muita gente a consciencializar-se, levando à busca das práticas e da sabedoria ancestral que tratam este fenómeno com incrível eficácia, sendo o resgate da alma uma prática poderosíssima para tratar este problema...

O RESGATE DA ALMA

Desde a primeira vez em que perdemos uma parte da nossa alma (não tendo a mesma regressado), continuamos na busca incessante, dessa preciosa parte de nós; e enquanto não a resgatamos, vamos atraindo os mesmos acontecimentos e repetindo traumas semelhantes - as vidas vão mudando, as pessoas vão mudando, mas as histórias repetem-se.

Felizmente que hoje em dia, existe um número cada vez maior de pessoas interessadas em aprender práticas xamânicas, havendo largas centenas de praticantes de xamanismo nas sociedades modernas, conhecedores de um método espantoso para trazer de volta à estrutura do Ser, as partes da alma que estão na realidade invulgar (não visível tridimensionalmente) - o «Resgate da Alma».

Nas sociedades mais antigas, o resgate da alma é efectuado 3 dias após ocorrência de um trauma. Na nossa sociedade, observa-se que os indivíduos que sofrem de perda de partes da alma, "arrastam-se" durante toda uma vida, completamente fragmentados, incompletos, insatisfeitos, sem conseguirem viver plenamente e, em casos extremos, com tendências a comportamentos destrutivos e doentios

Fazendo uso da prática do «Resgate da Alma», o xamã viaja até à realidade invulgar (através da jornada xamânica clássica, onde pode ser confrontado com vários obstáculos e testes à sua capacidade de ser um verdadeiro xamã), em busca de fragmentos da alma, os quais, podem estar associados a órgãos, a partes do corpo, a partes do passado ou mesmo, a energias essenciais, como por exemplo, a capacidade de amar ou a expressão criativa.

Em alguns casos, o xamã pode também ajudar à sintonia do paciente com os seus animais de poder - os quais -, irão ajudar à integração das partes da alma que regressam. O paciente volta então a sentir-se unificado, completo, volta a sentir o seu poder, volta a compreender o seu lugar neste mundo e finalmente, relaxa.

Mas vejamos com mais pormenor, como funciona uma   sessação de resgate da alma...