Assim...sou assim
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Que você me queira assim
Exatamente como eu sou
Por horas, liberta e atrevida.
Às vezes até incontida
De repente insana, mundana,
Desmedida.
Tristonha muitas vezes
Por males dessa vida
Mas feliz, sorridente,
Na maioria das vezes
Para ver-te contente.
De vez em quando mal-criada,
Stressada.
Em outras um doce de educada,
Amada.
De quando em vez silenciosa
Ociosa
Outrora, agitada,
Gata assanhada, desvairada...
Que você me queira assim
Queria estar perto de mim
Queira-me menina-amante-mulher
Só não queira mudar nada em mim.
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Claudete Silveira
Senhora das Tempestades
Senhora das tempestades
e dos mistérios originais
Quando tu chegas,
a terra treme do lado esquerdo
Trazes a assombração
As conjunções fatais
E as vozes negras da noite
Senhora do meu espanto
e do meu medo
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Senhora das marés vivas
e das praias batidas pelo vento
Senhora do vento norte
com teu manto de sal e espuma
Há uma lua do avesso quando chegas
Há um poema escrito
em página nenhuma
Quando caminhas sobre as águas
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Senhora dos sete mares
Conjugação de fogo e luz
E no entanto eclipse
Trazes a linha magnética da minha vida
Senhora da minha morte
Quando tu chegas, começa a música
Senhora dos cabelos de alga
Onde se escondem as divindades
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Trazes o mar, a chuva, as procelas
Batem as sílabas da noite
Batem os sons, os signos, os sinais
E és tu a voz que dita
Trazes a festa e a despedida
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Senhora dos instantes
Com teu cruzeiro do sul
Senhora dos navegantes
Com teu astrolábio
e tua errância
Tudo em ti é partida
Tudo em ti é distância
Tudo em ti é retorno
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Senhora do vento
Com teu cavalo cor de acaso
Teu chicote, tua ternura
Sobre a tristeza e a agonia
Galopas no meu sangue
com teu cateter chamadoPégaso
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Senhora dos teoremas e
dos relâmpagos marinhos
Senhora das tempestades
e dos líquidos caminhos
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Quando tu chegas,
dançam as divindades
E tudo é uma alquimia
Tudo em ti é milagre
Senhora da energia!
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Manuel Alegre
Se algum dia
Se um dia vieres a me amar
Não digas nada, vem calado
Deixa eu ver e adivinhar...
Se teus olhos estiverem muito acesos
Deixa eu ficar só na escuridão
Quero poder entender tua visão...
Se algum dia me quiseres ter
Vem de mansinho, falando baixinho
Pra eu escutar, bem devagarinho...
Se algum dia me quiseres afagar
Que tuas mãos venham de leve me tocar
Que venham mesmo, pra me abençoar...
Se me quiseres cochichar coisas de amor
Fala baixinho pra eu sentir o teu calor
Pode contar que estarei ao teu dispor...
Se algum dia as saudades te apertarem
E junto com elas todas tu chegares
Chegue comigo, deixa-as te abraçarem...
Se algum dia quiseres te aquecer
Vem de mansinho comigo perceber
Que assim unidos vamos nos manter...
Se algum dia quiseres me apertar
E a vontade de fazer não aceitar
Mate-me assim mesmo, quero estar...
Mas se quiseres me abandonar, quando tu fores
Não faças nada, não digas nada
Deixa eu curtir sozinha minhas dores...
Myriam Peres
Perdão
(Emoções)
Eu te perdôo, sim
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!
Eu te perdôo, te perdoarei sempre, pelo passado de amor
Pelos sonhos, pelas tuas promessas, pela minha dor
Pelos sopros de esperança dados, usados, jurados!"...
Sim, no silencioso grito de perdão, calo-me, sentindo que as esperas vindas do infinito de minhas recordações, voltem a me povoar agora, para poder sentir a necessidade de perdoar. O perdão é o mais nobre caminho a se chegar à condição de ser humano, moldado à semelhança de Deus, porque no perdão nos engrandecemos, nos sobressaímos à torpeza dos corações empedernidos, que se locupletam da prepotência, que liqüida com a ternura e se vê como superior. Superior do nada, de coisíssima alguma, pois nada é mais silente do que navegarmos de velas baixas, com o timão travado e a âncora colada no fundo dos desamores, das promessas vãs, que nos desqualificam e que nos derrotam.
Eu te perdôo, meu amor! Simplesmente tu me deste lições, aulas de carinho e ternura, que, na minha inocência cria sinceras, leais e absolutas. Embora sendo fingidas, eu acreditei, me desdobrei em tantos sonos, sonhei tanto, divaguei imensamente e vivi intensamente. Isso me fez feliz. Felicidade estampada no rosto, dissimulada apenas pelos rubores da minha infantilidade, das minhas crenças e dos desejos púberes que me fantasiei.
Como te perdôo e como te agradeço! Meus muito obrigada jamais ficarâo à altura dos meus perdões, porque, na realidade, fiquei transbordante de felicidade, que nada me modificará os pensamentos, os encantos, as magias nas reações deste mundo maravilhoso que, ingenuamnente, tu me fizeste acreditar. Não quero acordar agora, quero ainda me envolver nas malhas do teu bem-querer, nos embalos do amanhecer e nas doçuras do anoitecer, das minhas saudosas ilusões.
Porisso, meu perdão grita alto, grita fundo no meu coração, ao compasso das melodias dolentes que me embalaram as fantasias. Se perdoar fere menos que amar, perdoarei indefinidamente ao correr do tempo, que ainda fustiga minha vida, meus amores e embalam meus dissabores. Perdoar é esquecer, é apagar mágoas, lustrar sorrisos, aquecer apertos de mãos nos beijos das nossas intenções de irmãos, de companheiros que esperam sempre, como alento, nosso amparo, nosso amor, nossa compaixão.
Que tal perdoarmos para sermos perdoados? Um sorriso não vale mais que o rancor? Uma companhia não vale mais que a solidão de almas aflitas? Perdoemos, sejamos hábeis na sacrossanta verdade do saber perdoar. Que tenhamos força, mesmo quando o desalento nos impila a sermos rudes e empedernidos, nas situações mais difíceis de segurar, de acatar.
Perdoemos nossos desafetos, se realmente os temos, com a força da nossa intenção, com o furor de uma paixão, com as delícias de nosso coração, ávidas a se erguerem com as mãos para os céus e clamarem a Deus Sua Clemência, Sua Indulgência pelos nossos atos maiores, menores ou quais possam ser...
Maria Myriam Freire Peres
Marcas do tempo
Agradeço-te por existires
Por tocar tão intenso meu sentir
Por deixar meu sentimento fluir
Numa onda avalassadora do permitir...
Num contraste de razões
Num emaranhado de emoções
Como teia de aranha, prosseguir
Obrigada por permitir meu sentir...
Nada fizeste, eu sei que calaste
Nada sei porque me embriagaste
Apenas meu coração se enfeitiçou
De esperanças sempre se alimentou...
Mas, nada quero, nada peço
Sou eu quem apenas agradece
A ilusão que, sem querer, me despertaste
Apenas é que agora eu desejo ir embora...
Mas na espera da hora derradeira
Do aceno que deixará na lembrança
O adeus sofrido de toda esperança
Verto lágrimas sentidas de emoção
Na despedida do meu coração...
Não te culpes por esta solidão
Nem a mim mesma pela ilusão
Deixa as verdades fluirem sem emoção
Não se trata de mera ingratidão
Só a verdade, nada acima da razão...
Marcas, o tempo vai me oferecer
Mas à medida que tudo se acabar
Deixo a brisa para alimentar
E ajudar a me reencontrar
No caminho que venha a trilhar...
Nada peço, só agradeço
Os momentos que na emoçao
Do meu pobre e frustrado coração
Teci inventos a me alimentar
Agora chegou a hora de me libertar...
Não é uma despedida e sim um até logo
Pois na vida que temos ainda que caminhar
Muito chão nos espera para lembrar
Que nada aqui pode se acabar
Tudo é apenas um eterno renovar...
Myriam Peres
Orgulho
Por que tanta arrogância?
Tanta empáfia por quase nada ?
Desce do pedestal que ficaste
Vem aqui, desce pro asfalto
Mostra teu desatino
Sê um pouco pequenino,
Fica como um bom menino...
Não me perguntes razões
Não me perguntes porquês
Se são coisas que acontecem
Que venhas para se desculpar
Que não tardes em me dizer
Pra eu tentar entender...
São pulgas na nossa roupa
São casos de maldizer
São pregos enferrujados
Não devem ser mais usados
Se estão tão deteriorados
Vão logo desaparecer...
Sê um pouco afetuoso
Não te faças de rogado
Desce logo do altar
Caminha aqui ao meu lado
Mas só terei para te dar
Migalhas de afeição
Para teu pobre coração ...
Myriam Peres